Autor da fanfic ( Pedro Henrique).
O GUIA DO MOCHILEIRO DAS GALÁXIAS
Em uma pequena e escura cabine nas entranhas mais profundas da nave capitânia de Prostetnic Vogon Jetz, um fósforo acendeu-se nervosamente. O dono do fósforo não era um vogon, mas sabia tudo sobre os vogons, e tinha toda a razão de estar nervoso. Chamava-se Ford Prefect.
[...]
Olhou ao redor, mas não dava para ver quase nada; sombras estranhas e monstruosas formavam-se e tremiam à luz bruxuleante do fósforo, mas o silêncio era completo. Silenciosamente, Ford agradeceu aos dentrassis. Os dentrassis são uma tribo indisciplinada de gourmands, um povo selvagem, porém simpático. Recentemente vinham sendo empregados pelos vogons como comissários de bordo em suas viagens mais longas, sob a condição de que ficassem na deles.
Os dentrassis achavam isto ótimo, porque adoravam o dinheiro vogon, que é uma das moedas mais sólidas do espaço, porém detestavam os vogons. Os dentrassis só gostavam de ver um vogon quando ele estava chateado.
Graças a esse pequeno detalhe, Ford Prefect não fora transformado numa nuvenzinha de hidrogênio, ozônio e monóxido de carbono.
Ford ouviu um leve gemido. À luz do fósforo, viu uma forma pesada mexendo-se no chão. Rapidamente apagou o fósforo, pôs a mão no bolso, encontrou o que procurava e tirou-o do bolso. Abriu o pacote e sacudiu-o. Ajoelhou-se. A forma mexeu-se de novo. Ford Prefect disse:
— Eu trouxe uns amendoins.
Arthur Dent mexeu-se e gemeu de novo, produzindo sons incoerentes.
— Tome, coma um pouco — insistiu Ford, sacudindo o pacote. — Se você nunca passou antes por um raio de transferência de matéria, deve ter perdido sal e proteína. [...]
— Rrrr... — disse Arthur Dent. Abriu os olhos. — Está escuro.
[...]
— É — concordou Ford —, nenhuma luz. — Deu uns amendoins a Arthur e perguntou-lhe: — Como é que você está se sentindo?
— Que nem numa academia militar, em posição de sentido — disse Arthur. — A toda hora, um pedacinho de mim desmaia.
Ford, sem entender, arregalou os olhos na escuridão.
— Se eu lhe perguntasse em que [...] lugar a gente está — perguntou Arthur, hesitante —, eu me arrependeria de ter feito esta pergunta?
— Estamos a salvo — disse Ford, levantando-se.
— Ah, bom.
— Estamos dentro de uma pequena cabine de uma das espaçonaves da Frota de Construção Vogon.
— Ah — disse Arthur. — Pelo visto, você está empregando a expressão “a salvo” num sentido estranho que eu não conheço.
Ford acendeu outro fósforo para tentar encontrar um interruptor de luz. Novamente surgiram sombras monstruosas. Arthur pôs-se de pé e abraçou seus próprios ombros, apreensivo. Formas alienígenas horríveis pareciam cercá-lo; o ar estava cheio de odores rançosos que entravam em seus pulmões sem terem sido identificados, e um zumbido grave e irritante impedia que ele concentrasse sua atenção.
— Como é que viemos parar aqui? — perguntou, tremendo um pouco.
— Pegamos uma carona — disse Ford.
— Espere aí! — disse Arthur. — Você está me dizendo que a gente levantou o polegar e algum monstrinho verde de olhos esbugalhados pôs a cabeça para fora e disse: Oi, gente, entrem aí que eu deixo vocês na saída do viaduto?
— Bem — disse Ford —, o polegar na verdade é um sinalizador eletrônico subeta, e a saída do viaduto, no caso, é a estrela de Barnard, a seis anos-luz da Terra; mas no geral é mais ou menos isso.
— E o monstrinho de olhos esbugalhados?
— É verde, sim.
— Tudo bem — disse Arthur —, mas quando eu vou voltar para casa?
— Não vai — disse Ford Prefect, e encontrou o interruptor. — Proteja os olhos... — acrescentou, e acendeu a luz.
Até mesmo Ford ficou surpreso.
— Minha nossa! — disse Arthur. — Estamos mesmo dentro de um disco voador?
[...] Ford — insistiu Arthur —, não sei se minha pergunta é idiota, mas o que é que eu estou fazendo aqui?
— Bem, isso você sabe — disse Ford —, eu salvei você da Terra.
— E o que aconteceu com a Terra?
— Ah, ela foi demolida.
— Ah, sei — disse Arthur, controlado.
— Pois é. Foi simplesmente vaporizada.
— Escute — disse Arthur —, estou meio chateado com essa notícia.
Ford franziu a testa, e pareceu estar pensando.
— É, eu entendo — disse, por fim.
— Eu entendo! — gritou Arthur. — Eu entendo! — Ford pôs-se de pé num salto.
[...]
— Não entre em pânico.
— Não estou entrando em pânico!
— Está, sim.
— Está bem, estou. O que você quer que eu faça?
— Venha comigo e se divirta. A Galáxia é um barato. Só que você vai ter que pôr esse peixe no ouvido.
— Que diabos você quer dizer? — perguntou Arthur, de modo bastante delicado, pensou ele.
Ford mostrou-lhe um pequeno vidro que continha um peixinho amarelo, que nadava de um lado para o outro. Arthur olhou para ele, sem entender. Queria que houvesse alguma coisa simples e compreensível para que ele pudesse se situar. Ele se sentiria melhor se, juntamente com [...] o homem de Betelgeuse que lhe oferecia um peixinho amarelo para colocar no ouvido, ele pudesse ver ao menos um pacotinho de flocos de milho. Mas ele não podia; logo, ele sentia-se perdido.
De repente ouviu-se um ruído violento, vindo de um lugar que Arthur não conseguiu identificar. Ficou horrorizado com aquele barulho, que parecia um homem tentando gargarejar e lutar contra toda uma alcateia de lobos ao mesmo tempo.
— Pss! — disse Ford. — Escute, pode ser importante.
— importante?
— É o comandante da nave dando um aviso.
— Quer dizer que é assim que os vogons falam?
— Escute!
— Mas eu não sei falar vogon!
— Não precisa. É só pôr esse peixe no ouvido.
Ford, com um gesto rápido, levou a mão ao ouvido de Arthur, que teve de repente a desagradável sensação de que um peixe estava se enfiando em seu conduto auditivo. Horrorizado, ficou coçando o ouvido por uns instantes, mas aos poucos seu rosto foi assumindo uma expressão maravilhada. [...]
Arthur continuava ouvindo aquela mistura de gritos e gargarejos, só que de repente aquilo de algum modo havia se tornado perfeitamente inteligível.
Eis o que ele ouviu...
Emergência! Emergência! Nave inimiga aterrissou no planeta. Invasores armados ,Postos de defesa, postos de defesa. Os dois ratos fungavam, irritados, cercados dos cacos de seus recipientes de vidro, quebrados no chão. - Droga - disse o rato Frankie. - Tanta confusão por causa de um quilo de cérebro de terráqueo. - Seus olhos rosados estavam cheios de cólera; seu belo pêlo branco estava eriçado de eletricidade estática. - A única saída agora - disse Benjy, acocorado e cocando os bigodes pensativamente - é tentar inventar uma pergunta que pareça plausível. - Vai ser difícil - disse Frankie. - Que tal o que é, o que é, que é amarelo e perigoso? Benjy pensou por alguns instantes. - Não, não serve - disse. - Não casa com a resposta. Por alguns segundos, permaneceram em silêncio.
- Que tal Quantos caminhos é preciso caminhar?* - Arrá! - exclamou Benjy. - Essa parece promissora! - repetiu a frase, saboreando-a. - É, essa é excelente, mesmo! Parece uma coisa muito importante, mas ao mesmo tempo não quer dizer nada de muito específico. Quantos caminhos é preciso caminhar? Quarenta e dois. Excelente, excelente! Com essa a gente enrola todo mundo. Frankie, meu rapaz, estamos feitos!
E assim todos comemoraram como se não ouvesse o amanhã, pois a descoberta de Frankie irá ajudar eles a encontrar novos caminhos.
Fim



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